segunda-feira, 25 de agosto de 2014

UM HOSPITAL DIFERENTE



Hospital de Doenças Tropicais (HDT)
torna-se referência pela humanização 
e atendimento de diversas patologias
O Hospital de Doenças Tropicais (HDT) Anuar Auad recebeu no mês de abril um importante prêmio nacional concedido pelo Ministério da Saúde tendo como principal motivo o processo de humanização no atendimento.  Mais do que prêmio, entretanto, o hospital, hoje sob a gerência da organização civil Instituto Sócrates Guanaes, guarda uma trajetória de enfrentamento contra doenças muitas vezes pouco compreendidas e que exigem respostas imediatas da equipe médica.
O centro de saúde oferece aos moradores de Goiás e mesmo de outros estados um cuidado de referência médica, pois nem todas as unidades da federação se dedicam a investigar e tratar as inúmeras doenças que despontam da ação dos microrganismos.  Para se ter ideia, não existe uma unidade médica com o nível do HDT na região Centro-Oeste.
A atuação na área infectocontagiosa e dermatológica exige especialização e dedicação diferenciada dos profissionais de saúde e da administração. Atendimento a pessoas que sofreram ataques de animais peçonhentos, dengue, aids, influenza H1N1 e tuberculose são algumas das doenças que o quadro está preparado para enfrentar. Agora mesmo as equipes de infectologistas estão atentas aos casos de ebola na África e se preparando para enfrentar o vírus, caso seja necessário. 
Conforme dados quantitativos da unidade, dentre 1º de janeiro a 20 de dezembro de 2013, o HDT confirmou 415 casos de aids, 371 acidentes com animais peçonhentos, 203 pessoas infectadas com tuberculose, 199 casos registrados de meningite, 171 de varicela, 127 de dengue e 95 de hepatites virais.
Atendimento
De acordo com a enfermeira do Setor de Qualidade, Stefane Arruda, há 12 anos o hospital tem um Grupo de Adesão que tenta envolver os pacientes que iniciam tratamento. Ele procura estabelecer um contato mais próximo com os doentes, que muitas vezes optam em deixar de se relacionar com o hospital, seja por discriminação seja por dificuldades de deslocamento. Daí que se ele não procura o HDT, a unidade faz esta função, com uma equipe multidisciplinar.
"O grupo procura mostrar para a pessoa que ela não precisa se sentir marginalizada, pois o que ocorre com você acontece também com os outros. Sabemos que é grave o abandono do tratamento, daí a necessidade de mantermos todos unidos para enfrentarmos a doença", diz Stefane.  
O Grupo de Adesão do HDT tem hoje cerca de 5 mil integrantes e representa uma ação completamente diferenciada quando se compara o HDT com outras unidades públicas. O paradoxo é claro: enquanto hospitais abarrotados correm dos pacientes, adiando tratamentos, o grupo procura o doente para estabelecer contato e atenção.  
Esse comportamento mais social e interativo com os pacientes não é de agora. A história do hospital o fez caminhar por outra rota de assistência médica, mais próxima e sensível aos acontecimentos na vida das pessoas. "No começo, aqui era só HDT e terra vermelha. As pessoas faziam verdadeiras viagens para chegar ao hospital. Daí esse estigma de hospital longe de tudo e de todos e a existência de pacientes marginalizados. Mas rapidamente o hospital tornou-se referência para doenças dermatológicas, atraindo os olhares do país", diz a enfermeira.
A guinada começou com a instituição do tratamento do Fogo Selvagem, uma doença 'bolhosa', modalidade de pênfigo, que afetava o paciente por meio de dores terríveis, cuja descrição era de que a pessoa sentia realmente o corpo pegando fogo. "Os relatos da época mostram que as pessoas chegavam aqui correndo e gritando", diz a enfermeira.
Doença tratada pelas ciências dermatológicas, os médicos e enfermeiros se debatiam com a falta de informações sobre o pênfigo e usavam o conhecimento que restava à época para tratar os doentes.
Antes do Fogo Selvagem e logo depois, todavia, o hospital teria seu papel no estabelecimento do conceito de saúde pública em Goiás.
Oswaldo Cruz
O HDT se originou de uma união do Hospital Oswaldo Cruz – criado no final da década de 1960 para atender e acompanhar doenças infectocontagiosas – com o Hospital do Pênfigo. Na década de 1970, a grande incidência de procura por conta do fogo selvagem fez a unidade se renovar. E o HDT com o nome de Hospital do Pênfigo tornou-se abrigo e local de atenção para doentes que eram rejeitados devido às características físicas deixadas pela doença.
Em meados da década, todavia, uma grande epidemia de doenças meningocócicas provocou uma sobrecarga. E ocorreu então a junção dos antigos Hospital Osvaldo Cruz e Hospital do Pênfigo. Com uma nova estrutura, agora seria possível atender a todas as demandas da população.
Passados quase 40 anos, o HDT tem como meta ser um hospital que investe no ensino e pesquisa, além de permanecer estratégico no combate de doenças epidêmicas que incidem quando menos se espera uma população.
Nas últimas décadas, os profissionais médicos e de enfermagem têm se dedicado a elaborar artigos científicos e divulgá-los na comunidade de especialistas. Segundo informa a gerente médica da unidade, Analzira Nobre, a contribuição do HDT se amplia, chegando a outros países.
Tratamento de aids é referência no País
O Hospital de Doenças Tropicais (HDT) é focado em diversas doenças, mas a que mais exige esforços continuados da equipe continua a ser a aids. Stefane Arruda explica que a doença viral, queira ou não, estigmatiza e gera ainda um pânico não necessário e preconceituoso entre as pessoas. O HDT, todavia, viu surgir a doença e se especializou em tratá-la ao longo do tempo, oferecendo atendimento e remédios (coquetel) aos pacientes.   
A médica Analzira Nobre está no hospital há 20 anos e acompanhou praticamente a doença se estabelecer e também ser tratada maior eficácia, na medida em que os retrovirais se aperfeiçoaram. Ela também visualiza certo estigma em relação aos pacientes. "A pessoa pode vir tratar de unha encravada, mas alguém vai dizer que ela veio tratar aids. Neste sentido, o paciente carrega, sim, o estigma. Mas também temos outro estigma, se é que podemos chamar assim, de um hospital de alta qualidade", conta a profissional.  
Envolvimento
É no atendimento da aids que o Grupo de Adesão atinge sua melhor performance, pois consegue abraçar inúmeros pacientes que poderiam ter abandonado o tratamento. "Os profissionais do HDT são realmente diferenciados, pois todos têm um envolvimento. Nosso paciente é, de fato, carente, precisa de afeto, de atenção", diz Stefane.
Às vezes, explica a enfermeira, o paciente sai da unidade assustado. "Tem paciente com vergonha de vir no hospital, não quer ser filmado. Outros fornecem telefones que não existem", explica a profissional. Com este dilema, os profissionais saem a campo para oferecer tratamento aos doentes.
Unidade de vigilância
A médica Analzira Nobre afirma que o HDT é também um hospital de vigilância, pois acompanha surtos e epidemias constantes de doenças pouco conhecidas e também populares – o que exige sempre agilidade da equipe médica para se atualizar. "Nós tratamos H1N1, somos um hospital de referência para acidentes ofídicos, temos também as tuberculoses, meningite, enfim, inúmeras doenças. Somos referência em malária", diz.
Da mesma forma que Analzira, a diretora-geral do HDT, Anamaria Arruda, é uma entusiasta das possibilidades de atendimento do hospital goiano. Ela sublinha que o HDT não "trata apenas aids", mas uma série de doenças infecciosas e dermatológicas.
Ela informa ao Diário da Manhã pretende tirar do papel o Ambulatório Viajante, um dos projetos para os próximos meses da atual gestão. "Vai explicar uma série de questões de vacinas a que roupa você vai usar, por exemplo, se realizar uma viagem ao exterior ou para outros estados do Brasil", explica.
Anamaria reitera que a pessoa que precisa de atendimento no HDT deve primeiro procurar um Cais. "Somos referência do nível terciário, em atenção de doenças infecciosas. Então, não atendemos a demanda espontânea. O paciente tem que passar primeiro pelo Cais, que encaminha para o ambulatório e emergência."
Para Anamaria, neste sistema, a demanda regulada, torna a atenção médica mais equilibrada, deixando a intervenção do HDT para os casos mais graves.
Jornal DIÁRIO DA MANHÃ (Goiânia-GO)
Wellinton Carlos
Edição de 13/08/14 - página 3

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