Arquitetura Hospitalar

Hospital Sarah - Brasília Lago Norte
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O texto abaixo foi extraído do Trabalho Acadêmico intitulado "O Espaço Hospitalar e o Restabelecimento da Saúde: O Caso do Hospital das Doenças do Aparelho Locomotor – SARAH, de João Filgueiras Lima"de autoria de Lívia Mendonça, hoje graduada em Arquitetura pela Universidade de Brasília. 



Nos últimos anos tem-se discutido acerca dos aspectos da tecnologia, das técnicas construtivas, da sustentabilidade, do conforto ambiental, de funcionalidade e da flexibilidade dos espaços de saúde, o que tem proporcionado um grande avanço na qualidade destes espaços. Segundo Foucault (1979):

A arquitetura hospitalar é um instrumento de cura de mesmo estatuto que um regime alimentar, uma sangria ou um gesto médico. O espaço hospitalar é medicalizado em sua função e em seus efeitos. (FOUCAULT, 1979, p.109)

Filósofo francês Michel Foucault

Um aspecto que vem sendo cada vez mais considerado no projeto de ambientes de saúde é o aspecto da humanização. Segundo o Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde (2004) o termo humanização é entendido como “a valorização dos diferentes sujeitos implicados no processo de produção de saúde, aos usuários, aos trabalhadores e gestores”.

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De acordo com Figueiredo no capítulo “Ambientes de Saúde – O Hospital Numa Perspectiva Ambiental Terapêutica”, publicado no livro “Contextos Humanos e Psicologia Ambiental” (2005), o ambiente hospitalar influencia direta ou indiretamente o bem-estar dos seus utilizadores, médicos, enfermeiros, auxiliares de ação médica, dos familiares e das visitas. O hospital, enquanto espaço organizacional deve atender às necessidades inerentes aos diferentes grupos de utilizadores. Assim, ao interferirmos no meio hospitalar estamos influenciando no comportamento de seus usuários, considerando as interações e influências entre o homem e o meio.

Arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé)

Sendo o ambiente hospitalar um ambiente para a cura e sua arquitetura capaz de influenciar e até mesmo de gerar determinados tipos de comportamento, a humanização do seu espaço físico tem grande importância no processo de bem-estar do paciente. Um dos pioneiros nestes estudos no Brasil, foi o arquiteto João Filgueiras Lima, que buscou em seus projetos para espaços de saúde, soluções que priorizassem os espaços públicos e a coletividade sem deixar de lado a humanização destes ambientes por meio das formas, das cores, da luz, das ambientações e das paisagens necessárias ao conforto do paciente.

Arquiteto João Filgueiras Lima (Lelé)


Quando trabalho em projetos extremamente rigorosos em relação à funcionalidade, como é o caso de um hospital, lógico que levo em conta que um hospital sem funcionar não adianta nada. Mas, não excluo que um hospital tenha que ser belo. Tudo que nós estamos propondo na Rede SARAH é isso, um resgate da beleza e da criação de espaços mais humanos dentro do hospital (LELÉ, 2004, p.50)

A atuação do arquiteto deve levar sempre em consideração que são os espaços perceptivos e vivenciais que constituem a matéria-prima da arquitetura seja qual for a função à que ela se destina.

LIVRO: Percepção Ambiental e Comportamento
AUTOR: Jun Okamoto
Editora Machenzie, 2002
O principal objetivo da obra é procurar compreender como o homem de hoje vê e interpreta a realidade, para então analisar seu comportamento e seus ideais. Nesta obra, Okamoto analisa as funções e direcionamentos da arquitetura moderna, ressaltando a necessidade de resgate da convivência harmoniosa no espaço físico. O autor questiona a mera atribuição dada a esse espaço físico, de atender às necessidades básicas de trabalho, repouso, relaxamento e diversão. Mestre em Arquitetura e urbanismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e docente da mesma instituição, desde 1959, atualmente, Okamoto ministra cursos e palestras sobre percepção ambiental e comportamento.  (FONTE:http://www.mackenzie.br/percepcao_ambiental.html)

A arquitetura vai além do abrigo das necessidades e atividades e, no meu entender, seria um meio de favorecer o equilíbrio, a harmonia e a evolução espiritual do homem, atendendo às suas aspirações, acalentando seus sonhos, instigando as emoções de se sentir vivo, desenvolvendo nele um sentido afetivo em relação aos lócus e aotopos. (OKAMOTO, 2002).

Jorge Ricardo Santos de Lima Costa, arquiteto do Instituto Estadual de Engenharia e Arquitetura – IEEA/RJ, discutindo sobre o espaço hospitalar em arquitexto publicado na revista Vitrúvius, diz que:

A forma e a função fazem parte de um binômio que tem como objetivo a realização de um desejo particular, a abertura de um canal de comunicação otimizador da relação interna do sujeito com seu meio ambiente. A sustentabilidade dessa relação é fundamental para o reconhecimento e a manutenção da função social do espaço. (COSTA, 2001)

E completa:

A constituição da forma do espaço no hospital deve levar em conta a responsabilidade pelo destino de uma vida que está em jogo. Assituações que irão ocorrer no interior do espaço pressupõem uma atenção especial com relação à influência decisiva que o ambiente exerce sobre o sujeito. A forma do espaço, então, tem o poder de conformar um indivíduo, influenciando sua maneira de pensar, agir e sentir. O espaço direciona o olhar do sujeito para um determinado ângulo de percepção do meio ambiente. A saúde do homem recebe influxo permanente da forma espacial, podendo-se afirmar que, parte das enfermidades físicas e psíquicas, aparece como decorrente de um espaço mal constituído, desconectado dos reais anseios e necessidades do homem. A doença do sujeito pode estar relacionada a um espaço destituído de sentido e harmonia, ou seja, doente. (COSTA, 2001).

Pediatria do Hospital do Trabalhador – Curitiba - PR
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Para que os usuários de um espaço de restabelecimento da saúde tenham dentro dele a sensação de bem-estar é indispensável que haja a preocupação por parte do projetista, em observar as características físicas, fisiológicas, psicológicas e sociais, bem como a influência do sexo, da idade dos usuários. Desta forma, ele poderá adequar todo o aparato material, equipamentos, ferramentas, mobiliário e instalações envolvidos nas atividades do indivíduo dentro do edifício. Poderá tornar adequadas as condições de temperatura, ruídos, vibrações, luz, cores, gases e etc., do ambiente durante o trabalho (IIDA,2002)

Suíte do Hospital Samaritano – São Paulo
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Para transmitir a sensação de acolhimento e até de aconchego recomendados pelas recentes propostas de humanização é necessário que haja uma preocupação com a funcionalidade e a estética do espaço desenhado. Nesse sentido, as cores, os materiais e o tipo de iluminação, natural ou artificial, dentre outros aspectos contribuem para o conforto ambiental.

A substituição da luz artificial pela luz natural durante o dia proporciona uma redução considerável de consumo de energia elétrica nas edificações. Alguns estudos comprovam que a luz natural proporciona melhor conforto visual e conseqüentemente favorece o bem-estar dos indivíduos que ocupam o edifício.

A luz natural proporcionada pelas aberturas nas edificações atende as necessidades físicas e psicológicas dos ocupantes. Por apresentar definições de cores mais reais e variadas que a luz artificial, a luz natural proporciona maior qualidade na percepção do espaço construído. Além disso, as aberturas permitem o contato visual com o ambiente externo e, pela mudança das distâncias focais, permite o relaxamento do sistema visual. A visualização do ambiente externo permite também a noção aproximada das horas do dia, bem como das condições climáticas atmosféricas.

Livro: Da Cor à Cor Inexistente
Autor: Israel PEDROSA
Editora: SENAC - Nacional

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Combinando de forma harmônica a iluminação e seus efeitos de luz e sombra com as cores os ambientes podem se tornar mais adequados e atrativos para determinados usos e funções. Por trazerem efeitos psicológicos intrínsecos, as cores devem ser especificadas de maneira cuidadosa. As cores quentes, o vermelho, o amarelo e demais cores em que eles predominem, são mais estimulantes, transmitem a sensação de proximidade e conseqüentemente tornam a percepção dos ambientes mais compacta. Já as cores frias, o azul e o verde, bem como as outras cores predominadas por eles, são mais tranqüilizantes, transmitem a sensação de distanciamento e transparência e, conseqüentemente, tornam os ambientes mais leves e mais amplos. As cores influenciam também na sensação de conforto térmico. Em ambientes de cores frias as pessoas tendem a sentir mais frio, e em ambientes de coes quentes, as pessoas tendem a sentir mais calor. (PEDROSA, 1982).

De acordo com as Normas para projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde do Ministério da Saúde (1996), há uma série de princípios arquitetônicos gerais para controle acústico nos ambientes, de sons produzidos externamente. Todos agem no sentido de proteger as pessoas da fonte de ruído, a partir de limites de seus níveis estabelecidos por normas brasileiras e internacionais.

Em busca da humanização, uma discussão que se torna cada vez mais comum é a da necessidade de espaços lúdicos em edifícios hospitalares (GOÉS, 2004). Lojas, galerias de arte, restaurantes, serviços bancários, capelas e átrios internos com funções de praças tornariam estes ambientes mais humanos. No entanto, há que se considerar que no Brasil, mais de 60% dos hospitais são de pequeno porte e não comportariam tais estruturas que exigem um investimento muito alto e podem não garantir o retorno financeiro na proporção planejada pela instituição.

 Uma das salas do centro de Diagnóstico
e Tratamento de Epilepsia do Hospital das Clínicas, em São Paulo
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Espaço para exposição de arte do Hospital Escola UFPel/FAU – em Pelotas/RS
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Área de Lazer e Convivência do Hospital Alemão Oswaldo Cruz – em São Paulo
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Área interna do Hospital São Luiz – Itaim – em São Paulo
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Brinquedoteca do Hospital Sírio Libanês – em São Paulo
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